Resumo:
- Cancelamentos nas redes sociais podem afetar diretamente a reputação e as vendas de uma marca.
- A gestão de crise deve considerar três etapas: antes (prevenção), durante (contenção) e depois (aprendizado), com ações claras e comunicação empática.
- Marcas que mantêm coerência com seus valores e têm diálogo constante com sua comunidade tendem a atravessar cancelamentos com mais apoio e credibilidade.
O mundo digital é veloz, barulhento e cheio de holofotes. Um post errado, uma campanha mal interpretada ou até o silêncio diante de um assunto quente… e pronto! Sua marca pode estar no centro de um cancelamento.
Ser “cancelado” virou um dos grandes temores de quem gerencia redes sociais. E não é à toa: a cultura do cancelamento cresceu e se transformou em um verdadeiro tribunal popular com acusações, julgamentos e punições instantâneas.
Mas calma, nem tudo está perdido. Embora o cancelamento possa parecer um tsunami de críticas, ele também pode ser um ponto de virada (com as atitudes certas).
Neste texto, vamos entender o que é cancelamento, quando ele acontece, como evitá-lo e, o mais importante, como agir caso a sua marca entre no olho do furacão.
O que é cancelamento?
Cancelamento é o ato coletivo de reprovar publicamente uma pessoa, marca ou instituição por algum comportamento, posicionamento ou conteúdo considerado ofensivo, inadequado ou contraditório.
Nas redes sociais, ele se manifesta por meio de críticas em massa, cobranças, boicotes e exposição constante do “erro”. Tudo isso em tempo real e, geralmente, com muita intensidade.
No caso das marcas, o cancelamento pode vir tanto de uma ação direta (como uma campanha que pegou mal) quanto de omissões, parcerias questionáveis ou postagens mal interpretadas. Muitas vezes, a polêmica se espalha antes mesmo da marca ter tempo de se explicar.
É diferente de uma simples crítica. O cancelamento é mais amplo, organizado e, muitas vezes, movido por indignação coletiva. Ele não busca apenas apontar o erro, mas “punir” o infrator com perda de seguidores, reputação e até clientes.
O que é a cultura do cancelamento na internet?
A cultura do cancelamento é um fenômeno típico da era digital, em que indivíduos ou grupos se unem para criticar, expor ou boicotar algo ou alguém que, de alguma forma, transgrediu uma norma social, moral ou política, geralmente sob o olhar coletivo de comunidades online.
Nas redes sociais, esse comportamento ganhou força porque tudo acontece em rede, com alcance e velocidade impressionantes.
Um erro cometido pela manhã pode estar estampado em trending topics no fim do dia, acompanhado de hashtags, memes e uma enxurrada de comentários.
No contexto das marcas, essa cultura impõe um desafio constante: o de alinhar comunicação, valores e ações com as expectativas do público, cada vez mais atentas, críticas e engajadas.
É importante lembrar que o cancelamento nem sempre é resultado de má-fé. Muitas vezes, ele nasce de um debate legítimo, de pautas relevantes e da cobrança por mais responsabilidade social e corporativa.
O problema é quando essa cobrança vira linchamento, sem espaço para diálogo, contexto ou reparação.
A cultura do cancelamento, portanto, pode ser tanto uma ferramenta de conscientização quanto um risco reputacional.
As marcas precisam estar preparadas para navegar nesse cenário com escuta ativa, empatia e estratégias de comunicação bem definidas.
Quando ocorre um cancelamento?
Um cancelamento geralmente começa quando uma ação (ou omissão) de uma marca é percebida como ofensiva, incoerente, irresponsável ou contrária aos valores de parte da audiência, especialmente em temas sociais, culturais ou políticos sensíveis.
Não existe fórmula exata. O “gatilho” pode ser um post mal interpretado, uma propaganda de mau gosto, uma resposta ríspida no atendimento, uma parceria questionável ou até o silêncio diante de uma situação relevante.
O fato é que, quando algo incomoda um grupo expressivo, o efeito bola de neve pode ser quase instantâneo.
Normalmente, o processo segue um roteiro que mistura indignação com mobilização.
Usuários começam a comentar, marcar a marca, criar hashtags e compartilhar conteúdos relacionados.
A partir daí, o assunto ganha visibilidade e a pressão aumenta, tanto nas redes sociais quanto na imprensa e em outras esferas públicas.
Vale destacar que nem todo erro vira cancelamento. O que define isso, muitas vezes, é o contexto social, a forma como a marca reage e o poder de mobilização da comunidade envolvida. Ou seja: não é só o que você faz, mas como, quando e com quem você fala (ou deixa de falar).
Quais são os tipos de cancelamento?
O cancelamento pode tomar diferentes formas, desde o unfollow coletivo até campanhas organizadas de boicote.
Conhecer esses formatos ajuda as marcas a se prepararem melhor e a entenderem o tamanho (e o tipo) do problema com o qual estão lidando.
Tipo de cancelamento | Descrição | Gravidade |
Boicote | Quando consumidores deixam de comprar produtos ou serviços como protesto | Alta 🔴 |
Exposed | Divulgação de prints, vídeos ou denúncias contra a marca ou seus representantes | Alta 🔴 |
Bombardeio de avaliações | Avaliações negativas em massa em plataformas como Google Meu Negócio ou marketplaces | Alta 🔴 |
Cancelamento silencioso | O público simplesmente se afasta, minando a base da marca | Alta 🔴 |
Tweetaço | Ações coordenadas em passa para criaticar a marca nas redes | Média 🟡 |
Debandada de seguidores | Perda rápida e significativa de seguidores como forma de rejeição | Média 🟡 |
Efeito manada | Cancelamento por associação com pessoas, marcas ou causas polêmicas | Média 🟡 |
Saturação de menções | Perfis da marca são inundados com críticas, dificultando outras comunicações | Média 🟡 |
Hashtag de protesto | Criação e viralização de hashtags críticas que ampliam a visibilidade da crise | Média 🟡 |
Dislike Bombing | Organização de reações negativas em massa a conteúdos da marca | Média 🟡 |
Boicote
É quando consumidores decidem parar de comprar ou usar os produtos e serviços de uma marca como forma de protesto.
Em alguns casos, a campanha é articulada e conta com apoio de influenciadores, hashtags específicas e ampla divulgação.
Tweetaço
Sabe aquele momento em que dezenas, centenas (ou até milhares) de usuários publicam mensagens contra a marca ao mesmo tempo? Esse é o tweetaço.
Ele serve para ganhar visibilidade, pressionar a marca e alimentar a repercussão do cancelamento.
Exposed
Aqui, o objetivo é expor publicamente algo que a marca (ou alguém ligado a ela) fez e que estava “escondido”. Pode ser um print de conversa, um vídeo antigo, uma denúncia de bastidor…
Esse tipo de cancelamento costuma viralizar rápido, já que mistura indignação com sensação de furo jornalístico. E, na maioria das vezes, dá pouco tempo para a marca se preparar antes que a crise estoure.
Debandada de seguidores
Pode não parecer grande coisa à primeira vista, mas uma queda expressiva de seguidores em pouco tempo é um sinal claro de rejeição.
Além disso, impacta o alcance e a credibilidade da marca nas redes.
Bombardeio de avaliações negativas
Plataformas como Google Meu Negócio, Reclame Aqui e marketplaces podem virar campo de batalha durante um cancelamento.
Usuários deixam avaliações negativas em massa, muitas vezes sem relação direta com o produto ou serviço, mas sim com o motivo da crise.
Efeito manada (ou cancelamento por associação)
Mesmo que a marca não esteja diretamente envolvida, ela pode sofrer efeitos colaterais ao se associar a pessoas ou causas canceladas.
Parcerias polêmicas ou posicionamentos ambíguos costumam acender esse alerta.
Saturação de menções
O perfil da marca vira alvo de menções constantes e, muitas vezes, agressivas.
A timeline fica inundada de críticas, ironias e memes, o que afeta a imagem e dificulta qualquer outra comunicação durante o período.
Cancelamento silencioso
Às vezes, o público não reclama, apenas se afasta. Esse tipo é mais difícil de perceber, mas igualmente perigoso, pois mina a base de apoio da marca aos poucos, sem chance de resposta imediata.
Hashtag de protesto
É a criação (e disseminação) de hashtags críticas à marca, usadas para concentrar reclamações, organizar boicotes ou simplesmente ironizar a situação.
Quando viralizam, essas hashtags viram trend topics e atraem ainda mais atenção para a crise.
Dislike Bombing
Ocorre quando usuários se organizam para reagir negativamente a conteúdos da marca, como vídeos, posts ou produtos.
A enxurrada de dislikes e reações negativas afeta a percepção pública e pode até comprometer a performance de campanhas.
Quem pode ser alvo de um cancelamento?
O cancelamento não escolhe apenas os protagonistas. Ele atinge quem está no palco e quem está nos bastidores.
Marcas
Marcas são alvos naturais do cancelamento, especialmente quando ocupam espaço constante no dia a dia das pessoas.
Em tempos de redes sociais hiperconectadas, basta um post para o público reagir em massa. E quanto mais popular a marca, maior o risco de cobrança e escrutínio público.
Porta-vozes da marca
CEOs, fundadores, diretores de marketing, community managers… todos que, de alguma forma, falam em nome da marca também estão sujeitos ao cancelamento.
Um comentário fora de hora, uma piada sem tato ou um posicionamento mal alinhado pode virar uma crise institucional.
Nesses casos, a figura da pessoa se mistura à imagem da marca, e o dano pode ser difícil de conter sem uma resposta rápida e estratégica.
Parceiros ou influenciadores
Mesmo que a marca não tenha cometido um deslize diretamente, ela pode ser envolvida em cancelamentos por associação.
Parcerias com influenciadores polêmicos, celebridades envolvidas em escândalos ou fornecedores com práticas questionáveis também colocam a reputação em risco.
O público espera coerência, e associações consideradas incoerentes podem gerar rejeição, cobranças e até boicotes.
Fui cancelado. E agora?
Respire. Antes de sair deletando tudo ou postar um pedido de desculpas em Caps Lock, é preciso entender o tamanho da crise.
Ser cancelado nas redes sociais é sério, mas com o plano certo, é possível atravessar a tempestade e sair do outro lado com mais maturidade digital.
Avalie o impacto real da situação
Nem todo cancelamento se transforma em crise irreparável. Às vezes, é um barulho localizado em uma bolha. Em outros casos, a repercussão atinge portais, imprensa e até os resultados da empresa.
Use ferramentas de monitoramento para medir o alcance das menções e avaliar a gravidade.
Escute antes de responder
Leia os comentários, veja os vídeos, entenda o contexto. Reagir sem compreender pode piorar tudo.
Tente identificar o que realmente motivou o cancelamento: foi uma fala descontextualizada? Um erro de conduta? Um posicionamento mal interpretado?
Se errar, reconheça
Pedir desculpas não é fraqueza, é estratégia. Mas desculpas genéricas não colam.
Se houve um erro, seja transparente, mostre que a marca entendeu, diga o que vai mudar e aja. O público valoriza marcas que aprendem e evoluem.
Evite rebater com agressividade
A internet está de olho, e qualquer resposta atravessada pode virar combustível pro incêndio. Mantenha o tom profissional, mesmo diante de provocações.
Aja rápido, mas com planejamento
Crises digitais se espalham com velocidade. Monte um comitê de crise (mesmo que pequeno), alinhe a comunicação em todos os canais e centralize as informações em um único porta-voz ou nota oficial.
Corrija o curso e siga em frente
Depois da resposta pública, mostre com ações que a marca aprendeu. Pode ser uma mudança de política, um reposicionamento ou até uma campanha educativa. O importante é não fingir que nada aconteceu.
Ser cancelado pode parecer o fim da linha, mas também pode ser o início de uma nova fase, mais cuidadosa, mais conectada com o público e, principalmente, mais consciente do seu papel nas redes.
Checklist para gerenciar crises nas redes sociais
Gerenciar uma crise nas redes sociais não é sobre apaga. Para isso, nada melhor do que ter um bom plano à mão.
Abaixo, você encontra um checklist dividido em três momentos-chave: antes, durante e depois da crise. Ele ajuda a sua marca a manter a calma, a consistência e a confiança do público em qualquer situação.
Antes da crise (prevenção)
O melhor cenário é aquele em que a crise nem chega a acontecer. Para isso, é preciso estar preparado.
- Tenha um manual de crise atualizado;
- Estabeleça quem são os porta-vozes da marca;
- Crie fluxos de aprovação de resposta;
- Treine a equipe de social media para lidar com situações delicadas;
- Mantenha políticas de moderação claras e públicas.
Durante a crise (contenção)
Nem sempre dá para evitar, mas dá para controlar. O segredo está na resposta rápida, estratégica e empática.
- Monitore as redes em tempo real;
- Mapeie a origem e a intensidade da crise;
- Redija e publique um posicionamento oficial, se necessário;
- Responda com empatia e evite entrar em embates;
- Paute-se por fatos, não por boatos.
Depois da crise (aprendizado)
Toda crise, por mais difícil que seja, também é uma oportunidade de melhoria.
- Avalie os impactos de reputação e engajamento;
- Reúna a equipe para um debriefing estratégico;
- Atualize o manual de crise com os aprendizados do caso;
- Reforce boas práticas com o time;
- Se for pertinente, retome a comunicação de forma gradual.
Como evitar o cancelamento?
Evitar o cancelamento não significa se esconder ou deixar de se posicionar. Pelo contrário: marcas com propósito claro e comunicação transparente têm mais chances de criar conexões verdadeiras com o público e, consequentemente, evitar crises.
A seguir, veja algumas práticas que ajudam a prevenir episódios de cancelamento nas redes sociais.
Conheça profundamente sua audiência
Antes de publicar qualquer conteúdo, é importante entender os valores, hábitos e sensibilidades do seu público.
Marcas que conhecem sua comunidade conseguem se comunicar com mais precisão e menos ruído.
Mantenha uma postura coerente
A coerência entre discurso e prática é fundamental. Não adianta defender uma causa nas redes e agir de forma contrária nos bastidores. Os usuários estão atentos. E eles cobram.
Estabeleça limites e políticas de conduta
Tenha regras claras nos seus canais digitais: comentários com discurso de ódio, fake news ou ataques pessoais podem (e devem) ser moderados.
Isso ajuda a criar um ambiente saudável e protege a marca e a comunidade.
Fuja de polêmicas desnecessárias
Opiniões fortes podem gerar engajamento, mas também colocam a marca sob risco.
Antes de entrar em discussões públicas ou temas sensíveis, avalie o impacto real. Posicionar-se é legítimo, mas precisa ser bem calculado.
Revise os conteúdos antes de postar
Evite deslizes revisando textos, imagens e vídeos com atenção. Frases ambíguas, piadas mal interpretadas ou termos inadequados podem virar polêmica com facilidade.
Monitore a reputação digital com frequência
Use ferramentas de social listening para acompanhar o que dizem da sua marca. Com o monitoramento ativo, é possível antecipar crises, identificar ruídos, realizar análises de sentimentos e responder antes que a situação escale.
Crie vínculos reais com o público
Quando a marca cultiva uma comunidade fiel e engajada, o cancelamento encontra resistência.
Clientes que confiam na empresa tendem a defendê-la e ajudar na contenção de danos. A confiança é sua melhor blindagem.
Casos de marcas que enfrentaram cancelamentos
A cultura do cancelamento não escolhe o tamanho da empresa: até grandes marcas globais já viram sua reputação ruir da noite pro dia.
A seguir, alguns exemplos reais que mostram o que fazer — e o que evitar — em uma crise nas redes.
O Boticário (2015)
Ao exibir casais homoafetivos em uma campanha de Dia dos Namorados, a marca recebeu críticas conservadoras e até ameaças de boicote.
Contudo, a empresa manteve a campanha no ar, reforçou o compromisso com a diversidade e colheu frutos de engajamento positivo.
- Aprendizado: manter coerência com os valores da marca é uma escolha que pode gerar admiração e fidelização.
Pepsi (2017)
A Pepsi lançou um comercial estrelado por Kendall Jenner, no qual ela acalma uma situação de protesto oferecendo uma lata de Pepsi a um policial.
O anúncio foi amplamente criticado por trivializar movimentos sociais sérios, levando a Pepsi a retirar o comercial e emitir um pedido de desculpas.
- Aprendizado: utilizar causas sociais em campanhas publicitárias requer sensibilidade e compreensão profundas. Abordagens superficiais podem ser percebidas como oportunistas e insensíveis.
Dolce & Gabbana (2018)
A marca italiana foi duramente criticada por uma campanha publicitária considerada racista na China.
Em vez de responder com empatia, os fundadores divulgaram áudios ofensivos (vazados) e demoraram a se desculpar. O resultado? Eventos cancelados, produtos retirados de marketplaces chineses e um boicote massivo no país.
- Aprendizado: minimizar o problema ou desqualificar o público afeta diretamente a confiança e as vendas. Timing e tom são fundamentais.
Magalu (2020)
Com o lançamento de um trainee exclusivo para pessoas negras, a empresa foi alvo de acusações de “racismo reverso”. No entanto, foi amplamente defendida por sua base de fãs e consumidores.
O programa seguiu adiante, virou benchmark de diversidade e ajudou a construir uma imagem de marca progressista.
- Aprendizado: marcas que têm diálogo aberto e consistente com suas comunidades colhem apoio quando enfrentam críticas.
H&M (2021)
A varejista sueca H&M enfrentou um boicote na China após expressar preocupações sobre alegações de trabalho forçado na produção de algodão em Xinjiang.
Consumidores chineses reagiram negativamente, resultando na retirada de produtos da H&M de marketplaces e lojas físicas no país.
- Aprendizado: ao abordar questões sensíveis relacionadas a países específicos, as marcas devem estar preparadas para possíveis repercussões e considerar estratégias de comunicação que equilibrem seus valores com as realidades do mercado local.
Ser cancelado nas redes sociais é o tipo de dor de cabeça que nenhuma marca quer. A verdade é que, com a internet mais ágil (e afiada) do que nunca, toda empresa está a um post de distância de uma crise de imagem.
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